Pandemia: Uma Oportunidade para Crescer e Vencer os Erros de Nossa História

“Somos Presbiterianos”, “Cristãos” ,“Protestantes” etc. Nossa vida está profundamente permeada da nossa história. Quem somos é um produto natural de “quem fomos” e, por isso, muitas vezes, permitimos que erros construídos ao longo de nosso próprio processo de desenvolvimento vital interfiram e impeçam que alcancemos nosso pleno propósito existencial.

A Igreja Primitiva tinha uma história de origem dentro do judaísmo e, num dado momento, com a chegada dos gentios, sofreu um dos seus primeiros e mais importantes traumas: como se libertar da errônea construção do judaísmo legalista que se enraizou nos corações, para aceitar que os gentios não seriam obrigados a se circuncidar para serem servos do Altíssimo?

Pode parecer um problema pequeno, mas era uma grande questão para aqueles dias dos primeiros cristãos. Afinal, eles se sentiam traindo seu próprio coração, ao contrariar sua própria tradição. Como isso se resolveu? De que maneira Deus conduziu aquela igreja para que conseguisse superar essa dificuldade?

A resposta de Deus para este problema foi: a perseguição. Sim, Deus conduziu a sua igreja a repensar os seus valores e a se libertar dos erros de sua própria história, por meio de eventos desestabilizadores. A perseguição levou os crentes a se espalharem e a perceberem o mundo gentílico ao seu redor: “Naquele dia (a morte de Estevam), levantou-se grande perseguição contra a Igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria” (At 8.1).

O que percebemos no relato de Lucas em Atos é que esta dispersão logo levou a Igreja a conviver com os gentios. No capítulo 8, Filipe prega a um etíope (At 8.26) e no capítulo 9, Deus chama Saulo de Tarso com o propósito de pregar aos gentios: “Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel” (At 9.15).

Claro que podemos perceber que este momento de perseguição retirou os cristãos judeus de sua zona de conforto e lhes propôs uma crescente necessidade de repensarem os valores que construíram a sua história e que estavam moldando a sua fé de uma maneira equivocada. E o grande momento desta virada vai acontecer a partir de uma Igreja mais gentílica, a Igreja de Antioquia: “Alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene e que foram até Antioquia, falavam também aos gregos, anunciando-lhes o Evangelho do Senhor Jesus (...). Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados de cristãos” (At 11-26).

Penso ser apropriado estabelecer uma conexão lógica entre essa história de transformação da história da Igreja Primitiva com o momento de pandemia que estamos vivendo. Assim como a perseguição provocou uma mudança de postura e uma revisão de valores, acreditamos ser oportuno aproveitarmos nosso tempo para nos permitir refletir sobre o que temos de fazer daqui em diante. 

Entendemos que Deus nos obriga a perceber outras realidades, como: a importância da família na construção da fé; a maneira como temos evangelizado e o que fazer para alcançar vidas em mais lugares; e ainda, a valorização do encontro com os irmãos da fé.  

Podemos sim, usar este tempo como uma ferramenta do nosso próprio amadurecimento como cristãos e como pessoas em muitos sentidos. Aprender a viver as circunstâncias, ouvindo a voz de Deus nas Escrituras, buscando desenvolver nosso maior potencial como filhos da luz que é alcançar e influenciar outros para viverem em Cristo: “Porque o Senhor assim no-lo determinou: Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que sejas para a salvação até aos confins da terra. Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor e creram todos que haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.47-48).


Rev. Mauricio Nepomuceno
Pastor Efetivo da Igreja Presbiteriana do Tatuapé

2024, Igreja Presbiteriana do Tatuapé